Autor (pseudónimo/nome: Eugénio de Andrade/José Fontinhas
Editora: LIMIAR
Edição: 5ª
Local: Porto
Data de Publicação: Outubro 1985
Modo literário: Lírico
Género literário: Poesia
Comentário:
O que mais me impressionou no contexto da obra foi o “Poema à Mãe”, porque o considero interessante, pois relata a transição da meninice para a adolescência, transcrita nas seguintes passagens, “Mas tu esqueceste muita coisa / Esqueceste que as minhas pernas cresceram, / Que todo o meu corpo cresceu / E até o meu coração / Ficou enorme, mãe!". Por vezes essa transição é conflituosa criando atritos no relacionamento entre mãe e filho/a, implícitos no poema através das passagens: "Por isso, às vezes as palavras que te digo / São duras, mãe, / E o nosso amor é infeliz.". O crescimento de um adolescente implica transformações físicas e psicológicas, vividas, de modo mais ou menos consciente, pelo próprio e observadas com interesse pelos adultos, sobretudo por aqueles que lhe estão mais próximos (a família). Muitas vezes, surgem dúvidas, conflitos e uma adaptação contínua às novas realidades.
Contudo, aos olhos das nossas mães nós seremos eternamente os seus meninos puros, que necessitarão sempre da sua protecção.
A passagem à adolescência é bem retratada neste poema de Eugénio de Andrade e com o qual me identifico, pois relembra-me algumas modificações que eu tenho vivido, bem como mudanças nas relações com os meus familiares mais queridos.
Informações sobre o autor:
Eugénio de Andrade, pseudónimo de José Fontinhas, nasceu a 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, uma pequena aldeia da Beira Baixa. Filho de camponeses, a sua infância é passada com a mãe, que é a figura dominante de toda a sua vida e da sua poesia. Devido à separação dos pais, o pai pouco esteve presente na sua vida.
Concluiu a instrução primária já em Lisboa, para onde se mudou em 1932. Prosseguiu os estudos e, em 1935, despertou-lhe o interesse pela leitura. Passava horas a ler em bibliotecas públicas e começou a escrever poemas. Escreveu os seus primeiros poemas em 1936, o primeiro dos quais intitulado Narciso, que viria a publicar mais tarde.
Em 1938, enviou uma carta a António Botto, com alguns dos seus poemas. Este manifestou interesse em conhecê-lo. Em 1939 publicou o seu primeiro poema, "Narciso" e, pouco tempo, depois passou a assinar com outro nome: nascia o poeta Eugénio de Andrade.
Em 1942, Eugénio lançou o seu primeiro livro de poesia: "Adolescente". Em 1943, o poeta mudou-se novamente acompanhado pela sua mãe para Coimbra, onde ficou até ao final do ano de 1946, altura em que se fixou novamente em Lisboa. Entretanto, em 1944, cumpriu o Serviço Militar e, após a recruta, foi colocado nos Serviços de Saúde de Lisboa mas, visto que morava em Coimbra, tratou rapidamente de transitar para lá. Fizeram-se, nesse ano ainda, as primeiras traduções de poemas seus para francês e, em 1945, a Livraria Francesa publicou o seu livro "Pureza". No entanto, foi com "As Mãos e os Frutos", em 1948, que Eugénio de Andrade alcançou o sucesso. A partir dessa data, iniciou uma carreira especialmente rica em poesia, mas também com produções nos domínios da prosa, da tradução e da antologia. Eugénio de Andrade ergueu-se ao primeiro plano da poesia portuguesa.
Entretanto, em 1947, ingressou nos quadros do Ministério da Saúde como inspector-administrativo dos Serviços Médico-Sociais, onde permaneceu até 1983. Em 1950 foi transferido para o Porto, cidade onde viveu até morrer.
A 14 de Março de 1956 morreu a sua mãe e morreu uma parte do poeta: "A minha ligação à infância é, sobretudo, uma ligação à minha mãe e à minha terra, porque, no fundo, vivemos um para o outro". Em 1977 iniciou-se a publicação da "Obra de Eugénio de Andrade" pela Editora "Limiar". Nasceu, em 1991, a Fundação Eugénio de Andrade, que passou a reeditar toda a obra do poeta, sendo o último volume o número 26, o livro de poesia "O Sal da Língua" (1995).
Publicou mais de duas dezenas de livros de poesia. Obras em prosa, antologias, álbuns, livros para crianças e traduções para português de grandes poetas estrangeiros (Lorca, Safo, Char, Reverdy, Ritsos, Borges, etc...) completam até ao presente a sua bibliografia, para além de muitos títulos traduzidos e publicados em 20 línguas e em 20 países: na Alemanha, Itália, Venezuela, China, Espanha, no México, Luxemburgo, em França, nos Estados Unidos da América,... Eugénio de Andrade é, realmente - a par de Pessoa - o poeta português mais divulgado no mundo. A sua obra tem sido, por outro lado, objecto de estudo e reflexão por parte de escritores e críticos literários quer estrangeiros, quer portugueses.
A partir de 1994, passou a viver numa casa, apoiada pela Câmara do Porto, onde funcionava a Fundação com o seu nome. Foi nesta casa que faleceu em 13 e Junho de 2005, após uma doença neurológica prolongada.
Ana Afonso - 10ºB 04/04/2011