No meu peito não cabem pássaros
Título: No meu peito não cabem pássaros
Autor(a): Nuno Camarneiro
Editora: D. Quixote
Ano de Edição: 2011
Nº de páginas: 190
Sinopse:
Este livro narra a história de três autores distintos, cujas vidas não se confundem, mas que têm em comum o sentimento de inconformidade com o mundo que os rodeia e ainda mais consigo mesmo: Karl Kafka, um imigrante inadaptado na enorme e impessoal cidade de Nova Iorque, na qual vive de forma solitária e conflituosa; Jorge Borges, apresentado ainda como uma criança desajustada em Buenos Aires e posteriormente como um adulto dececionado que não consegue encontrar no mundo onde vive lugar para a sua imaginação e para as histórias que lhe povoam a mente; e, por fim, Fernando Pessoa, uma criança doente na casa da tia em Lisboa e um adulto solitário e inconformado com a vida ainda que nela encontre a sua vocação de poeta. Três homens, três vidas e três percursos que nunca se cruzam nem se misturam.
Apreciação Crítica:
A contracapa do livro informa-nos das três personagens que protagonizam a história, que são nada mais nada menos que três mentes brilhantes distintas que marcaram a literatura internacional: Karl Kafka, Jorge Borges e Fernando Pessoa. Apesar das diferenças geográficas e de idade, as personagens têm em comum a passagem de dois cometas pela terra, no ano de 1910, facto que suscita um enorme pânico a nível mundial e faz com que muitas pessoas se suicidem com medo de um provável fim do mundo: “Em todo o mundo, pessoas enlouqueceram, suicidaram-se, crucificaram-se, ou simplesmente aguardaram caladas e vencidas aquilo que acreditaram ser o fim do mundo”. Assim são as primeiras páginas do livro, com versículos de diversos jornais que relatam essa mesma notícia.
As três narrativas que se seguem intercalam-se em pequenos capítulos nos quais vamos acompanhando vários momentos da vida das personagens, o seu crescimento e amadurecimento enquanto pessoas e escritores. Sem nunca contrariar as biografais oficiais, Nuno Camarneiro teve como objetivo relatar os dias dos protagonistas e recriar outros com base naquilo que é conhecido sobre as suas vidas.
O principal destaque do livro é, sem dúvida, a linguagem poética usada pelo autor, bem assente no título da obra. A escrita, para além de extremamente bela e acessível, completa-se com um vocabulário variado, o que torna este livro uma obra para se ler sem pressa de chegar ao fim.
Apesar de ter gostado bastante da ideia original do autor e do seu emprego das palavras, a narrativa em si deixa muito a desejar, principalmente pelo facto de quase não existirem menções à passagem dos cometas e das suas consequências, que ficaram tão vincadas nas primeiras páginas, o que pensei ser o tema principal do livro.
Um pequeno romance extremamente bem escrito, ainda que com necessidade de um pouco de intriga, para ler calmamente e sobretudo para refletir.
Citação preferida:
“Um retrato traz-nos um pedaço de mundo visto pelos olhos da realidade. É assim que eu sou, assim me vêem. Que máquina mostrará um dia o outro lado da gente? Quem há-de retratar os bastidores desarrumados das nossas poses serenas?” (pág. 113).
Data de leitura: outubro 2018
Oceana Fernandes, 10ºA